quarta-feira, 5 de maio de 2010

Decadência

A solidão não é a pior coisa. Entre desconhecidos ou em um lugar deserto ela é muitas vezes uma dádiva. O que é "insuportável" é a solidão em evidência, alí exposta para todos verem e se horrorizarem com tal "aberração": dá asas a todo tipo de fantasmas... Mas eu estou lá, todos os dias, desafiando as mesmas pessoas e os mesmos tormentos, eu suporto na carne, não deixo de ir. "O que é insuportável é que nada é insuportável" Rimbaud. Ah! Suportar não é o bastante? A gente tem que querer mais? Claro! Vontade de Potência! Hahaha! (Da-lhe auto-ajuda!). "querer" mais não significa conseguir mais, e como pode conseguir mais aquele que sequer suporta? Esse "querer mais" foi até agora sintoma da decadência, pois ele é incapaz de produzir o objeto do seu querer. Aliás, em se tratando de decadentes, aquele que se reconhece como tal e suporta, ainda dispõe de mais força vital do que aquele que a todo custo a nega, criando subterfúgios imaginários. Oscar Niemeyer reconhece que a velhice não tem nada de bom, um decadente cuja Vontade de Potência permiti-lhe, se não mais o vigor, ao menos a sinceridade. Aceita o tempo e o perecimento próprio, isso é característico dos fortes. Para os fracos, reconhecer-se como decadente já é insuportável, eles desejam a eternidade, desejam uma felicidade perene, lêem auto-ajuda - Nietzsche, por exemplo -, contorcem-se contra seu declínio, desejam fugir dele a todo custo. Poucos são os que morrem serenos, como os estoicos: "suporta e abstém-te".
“O declínio, a corrupção, a escória não são algo de condenável em si mesmo: são uma conseqüência necessária da vida, do crescimento vital. O aparecimento da décadence é tão necessário quanto um crescimento e um desenvolvimento da vida; não se pode simplesmente eliminá-la. Manda a razão que, ao contrário, a ela seja atribuído seu próprio direito” (XIV, 14 (75)).
“É um auto-engano por parte dos filósofos e moralistas crer que saem da décadence pelo fato de fazer-lhe guerra. O sair é algo que está fora de nossas forças: o que eles escolhem como remédio, como salvação, não é por sua vez mais que uma expressão da décadence – modificam a expressão desta, mas não a eliminam” (Crepúsculo dos Ídolos, "O problema de Sócrates", § 11).
“Nossa vida, como toda vida, é ao mesmo tempo uma morte perpétua” (XI, 37 (4)).

Bem-aventurados os que fazem versos como quem morre...

3 comentários:

Unknown disse...

nada a ver douglas, mandou mal;

Unknown disse...

niilismo negativo.

Douglas Hugentobler Gimenis disse...

A decadência é algo inevitável, seja para um organismo, para um povo ou cultura. Ela começa quando a Vontade de Potência deixa de querer mais, de ser expansiva, e passa a querer subsistir e se conservar. Como o que caracteriza a vida é o querer mais, quando esse cessa começa o processo de declínio, de decadence e de morte.
Isso faz parte do ciclo vital. Como inevitável e absolutamente necessário, também devemos amar a decadence: Amor Fati!
Quanto tu começares a morrer, quando tua vontade de potência começar a se apagar, não há nada que tu possas fazer, não vai ser lendo Nietzsche que tu vai recuperar essa força; aliás, Nietzsche considera muitas vezes o procurar em livros um sintoma já da debilidade... Talvez, então, a melhor coisa seja mesmo saber morrer "Morre a tempo!" Ensinava Zaratustra: "Livre para a morte e livre na morte; divino negador, quando já não é tempo de afirmar: assim compreende a vida e a morte"

E lembre, não somos nós (nossa consciência ou "pequena razão") que escolhemos ser fortes ou não, que cultivamos a vontade de potência, é antes a vontade de potência em nosso corpo que determina nossa força ou fraqueza.

"Filosofar não é senão aprender a morrer" Montaigne