domingo, 18 de maio de 2014

Jung, Genética e Informática - uma especulação.

Na informática, quando uma função de software começa a ser muito utilizada, os engenheiros da computação imprimem os seus respectivos algoritmos nos discos rígidos, no próprio hardware. Alguns hd's são capazes de executar sistemas operacionais inteiros, apenas baseados nos circuitos, em marcas físicas - analogicamente - em lugar do sistema binário que caracteriza o sistema lógico e digital dos softwares. A teoria do inconsciente coletivo e dos arquétipos de Carl Jung sempre teve como tendão de Aquiles a crítica filosófica às ideias inatas (que remonta aos empiristas contra Descartes): ideias são abstratas, entes de pensamento, lógicas (software) e não poderiam ser herdadas junto ao material, extensional, físico (hardware), como, por exemplo, junto aos genes. Mas, numa analogia com o que já foi dito com relação a informática, não seriam as próprias ideias que seriam herdadas (inatas, portanto), mas sim os algoritmos correspondentes a essas ideias impressos no decorrer da evolução nos genes. Assim, os arquétipos não se confundiriam com as ideias que os mesmos executam. Eles estariam no mesmo nível dos instintos (algo que nenhum biólogo duvida que seja herdado geneticamente). Algo totalmente inserido na ordem causal, material e mecânica tal como a própria genética (cuja denominação "código genético" pode conduzir a equívocos, uma vez que não se trata de modo algum de "códigos" em sentido estrito, como se os genes dependessem de processos semióticos de codificação e decodificação, mas sim de pura e simples causalidade física e química).

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Psicanalisando-me



     Não sou uma pessoa que carece de energia vital, na verdade, isso é o que não me falta. Se me ponho a colorir mandalas aperto o lápis de cor com força, isso reflete a intensidade com que me entrego a qualquer atividade. Por isso, costumo sempre me sair muito bem em qualquer atividade que exija intensidade: o estudo dedicado, o desenho, a escrita, musculação, kung fu, etc. Porém quando me é exigido descontração, sou um fracassado completo. Sou exatamente o oposto da descontração, sou contraído como o arco e a corda numa lira ou num arco e flecha; por isso, Heráclito me é tão familiar. Também sou extremamente erótico, se não me falta energia vital, não poderia me faltar também energia sexual: ambos dizem respeito ao libido. Libido tenho de sobra e, consequentemente, tara e gana. Mulheres bonitas me estremecem por completo. É aí que nasce o meu problema: as mulheres. Nunca tive dificuldade em atrair mulheres, e nunca fui covarde nas abordagens: minha agressividade, porém, agrada algumas, mas assusta outras. Até aí tudo bem, não se pode agradar a todas. O problema surge de verdade com a convivência, depois do segundo ou terceiro encontro. Duas coisas prendem as mulheres: um papo descontraído e o bom humor (girls just wanna have fun). Sobre a minha dificuldade para com a descontração eu já falei, agora falarei do humor. Também não me acho uma criatura mal humorada, contanto que esse humor tenha alguma sacada; que faça sentido como a ironia, que acerte nas juntas das convicções ou da unanimidade como o sarcasmo, ou que exale agressividade e uma dose de violência como humor negro. Quanto ao resto, o pateta e o palhaço, não acho a menor graça. "Mas que sujeito chato sou eu. Que não acha nada engraçado. Macaco, praia, carro. Jornal, tobogã. Eu acho tudo isso um saco." Na verdade macacos são engraçados, principalmente quando se aparentam aos homens: a graça deles consiste justamente no seu ridículo e extrema chatice. Praia é uma necessidade em dias de verão, mas não tem muita graça, no máximo, beleza. Carro é poder e conforto, e também velocidade, propiciando sensação de liberdade e adrenalina (pela falta de vento no rosto, prefiro motocicletas). Jornal é a coisa mais repugnante do mundo. Tobogã é legal. Mas piadinhas (e isso Raulzito esqueceu) isso sim é um saco. Frente a minha dificuldade para com a descontração (principalmente o papo descontraído, uma vez que não sou lá de muitas palavras e também prefiro a linguagem do corpo, dos olhos e das ações do que a das palavras) e com o "bom humor", formou-se em mim, muito cedo e de forma muito enraizada, um complexo em relação a isso. A risada me parece mais um dever (e um meio em vista a fins, quais sejam, mulheres, visto que eu viveria perfeitamente sem riso, mas nunca sem mulheres) do que uma expressão espontânea do espírito. Além disso, sempre que vejo pessoas rindo de mais, é como se disparasse um alarme de alerta: Perigo! Deserto, zona inadequada para peixes. E é aí e só ai que me sobrevém a melancolia. Minha melancolia não é como a depressão (por mais que a primeira era o nome da segunda no século XIX), pois a depressão é um desanimo generalizado, um desgosto profundo que acomete todas as esferas da vida, uma falta do libido e do elã vital. A minha melancolia consiste em ter consciência clara de uma limitação, bem como de ter a consciência clara da minha incapacidade de superar tal limitação. Mas apesar de tal limitação (descontração e "bom humor"), o fim que tal meio limitado aspira, qual seja, as mulheres, continua latente. Existe, é verdade, um ponto positivo nessa limitação, graças a ele escapo do cárcere do casamento e das armadilhas dos relacionamentos sérios; nunca fiquei com uma garota por mais de quatro meses e a grande maioria não passou de poucas semanas quando não alguns dias. Mas de qualquer forma tal limitação é predominantemente negativa, visto que não sou eu que decido livremente não me relacionar de maneira séria. E a melancolia oriunda dessa limitação sempre frustra as minhas aspirações de me tornar um Don Juan. Logo eu que não conheço coisa mais bela que a mulher, experiência mais plena que o sexo e dom mais supremo que a lascívia. 

sábado, 10 de maio de 2014

sábado, 3 de maio de 2014

Quiprocó


Ela lançou-lhe, do outro lado da sala, um sorriso esplêndido, daqueles que sorriem boca e olhos, fazendo com que a expectativa acendesse dentro dele. Encaminhou-se, então, até ele e, se colocando as suas costas, começou uma massagem deliciosa nos ombros; ele sentiu um arrepio gostoso na espinha e um suave relaxamento:
— Como vão os estudos, querido? Muita tensão?
— Bastante, faltam só dois dias para o concurso.
— Mas eu vou te oferecer uma coisa que vai te aliviar...
Ele pensou se a levaria até sua casa ou, quem sabe, no matinho da biologia. Mas, antes que ele se decidisse, ela já estava na sua frente, ajoelhada e apoiando os ombros sobre as suas coxas. O meio de suas calças se avolumou. Pensou em abrir o zíper, mas decidiu não se precipitar, relegando a ela a tarefa. Ela, no entanto, pegou em suas mãos, aproximou-as, e uniu quatro mãos em postura de oração:
— Aceita Deus em teu coração, meu irmão.