segunda-feira, 9 de abril de 2012

Alan Moore lança "Lost Girls", uma contribuição de altíssimo nível à milenar arte erótica (Kama Sutra, o jardim perfumado do Xeque Nefzaui, Marquês de Sade, etc.) e não deixa de denunicar em entrevista o extremo mal-gosto da atual pornografia.


Foto: Divulgação/Top Shelf
O escritor e roteirista de HQ Alan Moore (Foto: Divulgação/Top Shelf)
Para os seus muitos fãs espalhados pelo mundo, Alan Moore é Deus. Para alguns de seus desafetos, como o Warner Bros., estúdio que transportou obras suas como “Constantine”, “V de vingança” e em breve “Watchmen” às telas dos cinemas, Alan Moore pode ser o Diabo na Terra.

Roteirista de histórias em quadrinhos, romancista, ex-colaborador do semanário britânico “NME”, músico e - mais recentemente - estudante aplicado de magia, este senhor inglês de 53 anos é geralmente creditado como um dos principais responsáveis por levar as HQs à fase adulta.

Conheça as principais obras de Alan Moore

Nove vezes vencedor do Prêmio Eisner, o mais importante do gênero nos Estados Unidos, Alan Moore envolveu-se em disputas legais com as duas maiores editoras de HQ dos Estados Unidos, Marvel e DC, e desde então passou a produzir seus trabalhos de forma esporádica e independente.

E foi graças a essa independência que ele conseguiu botar nas prateleiras recentemente sua obra mais polêmica e ambiciosa, “Lost girls”, um mergulho nas aventuras eróticas de três das mais populares personagens da literatura infantil: Alice, de “Alice no país das maravilhas”, Wendy, de “Peter Pan”, e Dorothy, de “O mágico de Oz”. O primeiro dos três volumes da obra, caprichosamente ilustrada por sua atual esposa, Melinda Gebbie, já foi lançando no Brasil pela editora Devir.

Por telefone direto de Northampton, cidade onde nasceu, cresceu e de onde não pretende sair tão cedo, Alan Moore falou com exclusividade ao G1 sobre “Lost girls”, mangás, Hollywood, Harry Potter e até Paulo Coelho. E falou muito. Abaixo seguem os principais trechos da conversa.

Foto: Reprodução
Alice, aos 60 anos, diante do espelho (Foto: Reprodução)
G1 - Por que você escolheu Alice, Dorothy e Wendy como protagonistas de ‘Lost girls’? Acredita que já houvesse um conteúdo sexual nas entrelinhas nos livros originais dessas personagens?

Alan Moore – É um pouco complicado de responder a essa questão. Desde meados dos anos 1980 eu vinha pensando se seria possível produzir uma obra extensa sobre sexo que tivesse todas as qualidades que se pode esperar de qualquer romance ou obra de arte. Uma idéia que eu já tinha envolvia “Peter Pan”. Porque, de acordo com [o pai da psicanálise] Sigmund Freud, os sonhos de vôos são também sonhos de expressão de sexualidade. Como há muito vôo em “Peter Pan”, pensei então que talvez fosse possível fazer uma versão sexual dessa história. Mas não fui muito longe porque concluí que tudo o que acabaria fazendo seria uma paródia sacana da história de Peter Pan. Foi só quando encontrei [a atual esposa e desenhista de ‘Lost girls’] Melinda Gebbie que a idéia começou a tomar forma. Falamos sobre as possibilidades de se criar um trabalho de pornografia de fôlego e mencionei minha pouco entusiasmada idéia sobre “Peter Pan”. Melinda disse que sempre havia gostado de ter três mulheres como protagonistas das histórias que fazia por gostar mais da dinâmica que se pode desenvolver dessa forma. Ela escreveu uma HQ chamada “My three swans”, que tinha uma relação de três mulheres. Então as duas idéias se cruzaram e comecei a pensar: se Wendy, de “Peter Pan”, fosse uma das três mulheres, quais seriam as outras duas? Daí foi um passo bem curto até Dorothy, de “O mágico de Oz”, e Alice, de “Alice no país das maravilhas”. Uma vez que chegamos a essas três personagens ficou óbvio que era uma grande combinação para contarmos a história que queríamos. Nem tanto porque já houvesse algo de erótico nas personagens, mas pela natureza dessas três histórias, em que três jovens garotas são retiradas de suas vidinhas confortáveis e familiares e colocadas em mundos estranhos e fantásticos em que nenhuma das leis normais da realidade é a mesma, e as pessoas que encontram são bizarras ou grotescas. Pensamos que isso nos daria uma metáfora perfeita para o modo como a maioria das pessoas descobre a sua sexualidade, provavelmente quando criança - ou mesmo aos 30 anos. Essa experiência sexual é um marco muito importante para sinalizar o fim da infância. Entramos nesse mundo como crianças, achamos tudo estranho, populado por seres peculiares, mas, como Alice, Dorothy e Wendy, encontramos nossas respectivas terras das maravilhas. Esse nos pareceu o veículo perfeito para explorar as conexões entre realidade e fantasia, entre realidade sexual e fantasia sexual e explorar a imaginação sexual humana na pornografia. Foi basicamente daí que veio a idéia.



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Furacão simboliza descoberta da sexualidade de Dorothy, de "O mágico de Oz" (Foto: Reprodução)
G1 – No livro, Alice, Wendy e Dorothy só se encontram quando adultas, mas com idades diferentes. Como resolveram essa questão?

Moore - Tentamos chegar às idades das personagens de acordo com as datas de publicação originais dos livros. E, nessa cronologia, acabamos com uma janela de oportunidades bem estreita para o período em que essas três mulheres poderiam ter se encontrado. Não queríamos que Alice fosse muito velha, nem que Dorothy fosse tão jovem. Alice tem por volta de 60 anos. Dorothy tem cerca de 20. As três têm aproximadamente 20, 40 e 60, que são idades bem distintas no desenvolvimento de uma mulher. Tentamos também fazer três tipos de corpos bem diferentes porque estávamos um pouco cansados do tipo comum de erotismo em que todo corpo tem de parecer de alguém de 25 anos, bonito e musculoso, quando, na verdade, os seres humanos somos de todos os tamanhos e formas. E a maioria de nós ama sexo. Então tentamos representar as imagens dessaas mulheres de maneiras um pouco mais inclusivas e abrangentes. Além disso, as personagens vêm de três classes sociais bem distintas. Temos a aristrocrática Lady Fairchild [Alice], temos Wendy, de classe média, e temos Dorothy, uma americana vinda de uma família fazendeira. Eram muitas as coisas com as quais podíamos brincar no curso da história. Percebemos ainda que a época em que as três teriam se econtrado seria provavelmente entre 1913 e 1915. E isso nos trouxe possibilidades imediatas: [o balé] “A sagração da primavera”, de Stravinsky, tinha sido encenado em 1913 na Ópera de Paris; o assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando aconteceria dentro de um ano, provocando a Primeira Grande Guerra. Aquele era um pano de fundo incrivelmente sombrio e convincente para ambientarmos a nossa frívola fantasia sexual.

G1 – Acha que os eventos históricos servem para contra-balancear com o lado mais fantasioso da história?

Moore – Sim, é claro que ajuda ter ao menos um elemento de realidade em que ancorar a sua história, mas acho que, nesse caso, serve mais para dar um toque artístico e inteligente para embalar a nossa fantasia sexual. Para passar uma mensagem com mais peso dramático e fazer uma comparação entre a quantidade de imaginação sexual que é retratada no hotel que serve de palco para a história e a falta de imaginação representado pela Primeira Guerra. Suponho que a mensagem geral de “Lost girls” seja algo tão simples como faça amor, não faça guerra. A idéia é abrir esta mensagem e expandi-la usando a história para tentar mostrar todas as possibilidades maravilhosas da imaginação humana que são completamente apagadas pela guerra. A Primeira Guerra Mundial foi algo que os europeus provalvemente jamais vamos superar, até hoje. Algo que, de muitas formas, partiu o coração da Europa. O tanto de cultura destruída é impressionante se você começar a pensar no número potencial de artistas, poetas, cientistas e médicos que morreram em trincheiras. Há um custo incrível para toda guerra, muito freqüentemente um custo invisível. Claro que vemos a destruição e sabemos que existem poetas que conseguiram escrever o suficiente para que seus trabalhos superassem as suas mortes. Mas de quantos outros poetas, artistas e músicos nunca ouvimos falar porque foram mortos antes que sequer tivessem começado a trabalhar em seu primeiro trabalho? [Com “Lost girls”] Quisemos contrastar toda a riqueza artística daquele período de 1913, 1914 com o que estava acontecendo politicamente. Foi um tempo muito interessante. Na moda, era quase o fim da Belle Époque e o começo de uma era completamente diferente que se tornaria o Flapper dos anos 1920. No mundo da arte, havia o declínio do Art Noveau, com suas formas românticas e belas, e a chegada do Modernismo. Era o racha entre dois mundos, o velho e o novo. Incluindo isso tudo em “Lost girls”, queríamos sinalizar que não estávamos fazendo só um trabalho de pornografia, mas um trabalho de pornografia que tivesse profundidade genuína e ressonância moral. Claro que o quanto nós fomos bem-sucedidos nisso cabe ao leitor avaliar (risos).



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Capa de uma edição do "The Yellow Book", que trazia textos e desenhos de autores considerados malditos no século XIX (Foto: Reprodução)
G1 – No móvel de cabeceira dos quartos do Hotel Himmelgarten, em “Lost girls”, há sempre um livro pornográfico chamado “White book” e que inclui referências a trabalhos eróticos de Oscar Wilde, Aubrey Beardsley e outros. Qual era a situação da pornografia naquela época?

Moore - Quando essas coisas estavam sendo publicadas, os pastiches que incluímos no “White book”, muito do que era usado fazia parte do movimento conhecido como Decadentismo, que foi de mais ou menos 1880 a 1920. Existia um grande número de leitores para isso, mas, na época em que foram publicados, era contra a lei produzir trabalhos como esses. E havia grandes heróis daquele período, como Leonard Smithers, que publicou a maioria dos artistas e escritores do Decadentismo, incluindo Pierre Louÿs e Aubrey Beardsley. Até que o julgamento de Oscar Wilde [pela acusação de homossexualismo] praticamente dinamitou a cena do Decadentismo. Quando estava caminhando de sua casa em Londres em direção ao táxi que o levaria até a primeira audiência, Wilde estava carregando “um” livro amarelo debaixo do braço, que provavelmente era apenas um livro de capa amarela. Mas a imprensa não fez a distinção e disse que ele estava carregando “o” livro amarelo [referência ao periódico britânico “The Yellow Book”, que editava boa parte dos artistas do Decadentismo]. A publicação foi banida da existência e a maioria dos artistas que estavam nela ficou envergonhada de estar ligada a Wilde. A arte erótica sempre foi um pouco problemática, com a exceção de que, hoje, ela não é mais um problema.

G1 – Não? O que quer dizer com isso?

Moore - Nós temos pornografia em todo lugar. O problema é que a qualidade dessa pornografia está bem bem distante do padrão estético daquela época que representamos no “White book”. A pornografia que temos hoje parece não ter nenhum valor artístico, parece criada para estimular as pessoas a qualquer outra coisa que não sexo. Uma das melhores coisas da arte, da arte genuína, é que quando vemos uma imagem ou descrição de algo que se relacione com um sentimento que temos e não conseguimos expressar, ela nos faz sentir menos sozinhos. E o que a pornografia de hoje faz é o exato oposto. Faz com que você se sinta envergonhado, mais sozinho do que nunca. Vemos ou lemos pornografia sozinhos, como se o nosso prazer fosse algo para se envergonhar, algo deplorável. E isso é uma tremenda pena se pensarmos que se trata de uma atividade humana tão prazerosa. Praticamente todos os diferentes gêneros de ficção que temos hoje são baseados nessas áreas improváveis da atividade humana, como caubóis, detetives e monstros. Enquanto aquilo que mais temos em comum, que é algum tipo de prazer sexual, só pode ser abordado nesse gênero grosseiro, tolo e por baixo do pano pelo qual todos se sentem culpados e envergonhados. O que pretendíamos com “Lost girls” era eliminar essa relação imediata entre pornografia e vergonha. Pensamos que se pudéssemos produzir uma pornografia que fosse bela o suficiente e inteligente o suficiente e séria em sua aplicação então talvez fosse possível que pessoas civilizadas e dignas não se sentissem envergonhadas de ter uma obra pornográfica em suas casas.


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Capa do primeiro livro da edição brasileira de "Lost girls", da Devir (Foto: Divulgação)
G1 – No caso de “Lost girls”, aliás, a embalagem luxuosa ajuda muito.

Moore – É tão elegante! Foi idéia da Melinda. Ela insistiu que queria que a embalagem evocasse a mais alta qualidade que tinham os livros da literatura infantil durante a Era Vitoriana. Quisemos agregar aqueles maravilhosos valores de produção ali para que ninguém confundisse esse livro com algo barato e mal-feito.

G1 – Mas, considerando os personagens – Alice, Wendy e Dorothy – e o fato de se tratar de histórias em quadrinhos, não pode haver o risco de alguém comprar achando que é um livro para crianças?

Moore - Não acho provável. “Lost girls” não se parece com nenhum livro infantil atual. Não sei de nenhuma criança que costume comprar livros de 1890, que é o tipo de coisa que estamos evocando. E, claro, o preço é muito alto para uma criança. Além disso, no pacote da versão americana há avisos que deixam muito claro se tratar de uma obra erótica. Estamos informando os lojistas para que só vendam para adultos, pois poderia trazer problemas para as próprias lojas. Só um pai muito irresponsável compraria isso para seu filho sem saber.

G1 – A história e as ilustrações de “Lost girls” trazem referências explícitas a grandes tabus da sociedade ocidental, como abuso infantil, incesto e uso de drogas. E isso tudo num universo que pertence à literatura infantil. Vocês encaram esse trabalho como uma provocação política?

Moore - Não pensamos em provocar. Claro que já houve problemas com censura no passado. Somos adultos inteligentes e sabíamos que haveria chance de algumas pessoas verem a obra como algo provocativo. Mas, honestamente, não estávamos tentando chocar ninguém. Nunca pretendemos fazer uma paródia sexual selvagem desses três livros. Primeiramente, porque temos muito respeito por esses três livros e nos certificamos de que nossas versões das personagens fossem fiéis, de certo modo, às visões dos autores originais. E são personagens poderosas. Não acho que existam circustâncias degradantes a elas no curso do livro. Mas percebemos que se iríamos falar sobre pornografia, sobre a imaginação sexual humana, então teríamos de ser honestos a respeito desse mundo. Teríamos de falar até dos cantos mais sombrios da imaginação sexual humana. E claro que há um certo pânico moral sobre isso. Não sei como é no Brasil, mas certamente nos Estados Unidos e na Inglaterra e em outros países na Europa tem uma preocupação muito grande com relação a esses assuntos e que, às vezes, se torna histeria. Ao mesmo tempo, toda a nossa cultura anda em direção de erotizar tudo, incluindo as crianças, para vender de salgadinhos a carros e bandas pop, como por exemplo as Spice Girls. Elas popularizam essa idéia de sexualização para as suas fãs, que são na maioria meninas de dez anos. Temos uma cultura que se apóia em uma imagem sexualizada de meninas muito jovens ou que se parecem muito jovens. A revista “Barely Legal”, se baseia nisso e é muito popular. Parece que nós gostamos desses pensamentos depravados, mas ao mesmo tempo há um surto de fúria moral. Enquanto que, em países como Espanha, Holanda ou Dinamarca, há uma atitude diferente com relação à pornografia, ela está bem mais acessível, até a mais pesada está disponível em bancas de jornais. E passa praticamente despercebida, é algo em que ninguém presta muita atenção. Aparentemente tem muito mais pornografia, mas ela é muito menos dirigida a crianças. Nesses países que eu mencionei, a pornografia parece estar agindo como um escape sexual socialmente aceito, ao contrário do que acontece no Reino Unido ou nos EUA. Suspeito que tenha a ver com essa associação imediata entre pornografia e culpa. É algo como aqueles experimentos behaviouristas com ratos onde você dá um estímulo para o animal e ele pressiona uma alavanca para ganhar sua recompensa ou punição. O estímulo será um vídeo na MTV da Britney Spears vestida de colegial. Ele se soma à atmosfera geral erotizada, algumas pessoas vão se sentir excitadas, e o recurso mais provável, se não tiverem um parceiro, será a pornografia. E, no momento em que encontram o alívio que estão procurando na pornografia, elas imediatamente vão sentir vergonha, repulsa de si mesmas. Você estimula o rato, ele aperta a alavanca para pegar sua recompensa e imediatamente leva um choque elétrico moral de vergonha e culpa. Desconfio que se você fizer isso para ratos de verdade, conectando seus sistemas de recompensa e punição à mesma alavanca, acho que logo eles enlouquecem. Vão começar a mostrar formas bem estranhas de comportamento. E acho que foi isso o que aconteceu no Reino Unido e nos EUA, lugares onde se tem essa atitude muito negativa em relação à pornografia e à imaginação erótica em geral. Creio que algumas pessoas incapazes de suportar o desgosto que sentem com relação a sua própria forma de alívio talvez tendam a se recolher nos cantos mais sombrios, fazendo com que aquilo se torne ainda mais obscuro...

G1 – Os serial killers, estupradores, pedófilos...

Moore – Não acho que eles sejam assim por causa da pornografia. Lembro-me de Ted Bundy [criminoso americano que confessou ter estuprado e matado pelo menos 30 mulheres durante a década de 1970] no momento de sua execução dizendo que a nossa era uma cultura da pornografia. Ao mesmo tempo, existem milhões de pessoas que lêem regularmente pornografia e conseguem lidar com isso sem estuprar ou matar nenhuma mulher. Mas me chama atenção que a atitude básica que temos em relação à pornografia possa ajudar a criar alguns desses monstros sexuais como Ted Bundy.


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Animês e mangás usam artifícios estranhos para insinuar o sexo (Foto: Reprodução)
G1 – O que acha da maneira como os japoneses lidam com a sexualidade nos mangás e animês?

Moore
Não sou um grande fã do que se conhece como mangá hoje. Mas não gosto da abordagem dos japoneses para o sexo. Eles são muito reprimidos em certas coisas. Creio que ainda seja ilegal mostrar genitália ou pêlos pubianos. Com isso, o que fazem é forçar os artistas japoneses a artifícios grotescos para compensar aquilo que poderiam ser substituído com a expressão sexual. Me lembro de Melinda trazer um quadrinho – admito, muito bem desenhado – de um artista erótico japonês recente. Adorei o desenho, realmente, mas não queria aquele livro na minha casa porque todo o conteúdo sexual e penetrações tinham que ser escondidos. Isso me perturba. Se for para você mostrar órgãos genitais, algo que todo mundo tem, provavelmente não vai chocar tantas pessoas mostrando-os de forma realista do que as que pegarem um mangá em que o protagonista abre o seu zíper e o que sai de suas calças não é um pênis humano comum, mas uma metáfora sexual bizarra como um míssel teleguiado, uma serpente... Para o leitor novato, esse aspecto do mangá pode ser bem desagradável. Tendo a pensar que seria muito mais saudável se eles simplesmente tirassem essas regras ultrapassadas e deixassem as pessoas explorar o conteúdo sexual de modo mais saudável. Um amigo estava na internet e encontrou um site especializado em bonecos de cerâmica de heroínas de mangá, como Sailor Moon por exemplo, evacuando os intestinos. Eu jamais imaginaria que haveria um mercado de nicho para essas coisas! Pode mostrar esses personagens inocentes defecando, mas é proibido mostrar seus órgãos genitais. Há algo muito estranho na maneira como os japoneses lidam com a sexualidade. Pode ser uma afirmação equivocada ou possivelmente racista, mas pelos exemplos que vi me parece que os sentidos dos japoneses estão sendo colocados numa panela de pressão. Uma vez que essa sexualidade explodir, poderá haver elementos de violência nela.



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Personagem da série "Click", de Milo Manara (Foto: Reprodução)
G1 - A respeito dos chamados mestres do quadrinho erótico europeu, como os italianos Milo Manara e Guido Crepax, o que pensa deles?

Moore - Conheço o trabalho deles. Milo Manara é um ótimo desenhista, mas não gosto tanto do seu trabalho no erotismo. A mesma coisa com Crepax. Há algo no modo como Manara desenha as mulheres de que eu realmente não gosto. Elas parecem homogêneas demais, sempre com o mesmo tipo de corpo, mas sem personalidade. Toda mulher nos desenhos do Manara parece ter sempre aqueles lábios de boquete. Eu preferiria se tivesse um pouco mais de humanidade, porque senão você reduz a mulher aos sentidos. Quando estávamos fazendo “Lost girls”, passamos tanto tempo conversando sobre o que não queríamos fazer quanto sobre o que queríamos fazer. E consideramos muito a crítica das feministas sobre pornografia. Porque, mesmo que concordemos com muito poucas delas, elas são pelo menos críticas racionais. E se existe algo em que realmente concordamos com as feministas é que a representação da mulher na maioria da pornografia é tremendamente vazia. Pensamos, então, que devíamos isso às mulheres. E à pornografia. Precisamos de personagens autênticos para que você tenha uma relação autêntica com eles. Por isso “Lost girls” é um livro mais direcionado às mulheres, talvez mais até do que aos homens - já que atrair homens para a pornografia não é exatamente inventar a roda. Para atrair o interesse das mulheres é preciso um pouco mais de carinho e de cérebro. Pensamos em gente como Crepax e Manara e muitos dos outros que temos alguma certa admiração, mas acho que estamos lidando com públicos diferentes, com pensamentos diferentes sobre sexualidade. Eu certamente não queria menosprezar o talento de nenhum desses senhores, mas me parece que a visão geral de erotismo apresentada pela maioria dos artistas europeus é geralmente limitada. Gostaríamos de ir além do que esses supostos mestres do gênero iniciaram.


G1 – Soube que “Lost girls” levou 16 anos para ser concluído. É isso mesmo?

Moore - Dezesseis ou 17. Começamos em 1989 e desde então tivemos duas ou três editoras por causa dos altos e baixos da indústria de publicação na América. Nesse meio tempo eu estava pagando Melinda para produzir as páginas porque achava importante que o projeto fosse finalizado e estávamos muito comprometidos com ele. No começo, não sabíamos que tomaria 17 ou 18 anos, mas mesmo se soubéssemos ainda assim teríamos feito. Achávamos que alguém tinha de criar um trabalho de pornografia que fosse também bonito. E essa foi uma das razões por que levou 18 anos. Quer dizer, tivemos de discutir cada painel, cada cena antes de ter certeza de que estávamos os dois satisfeitos e que estivesse sexualmente excitante. Foram 16 anos e outros dois de pós-produção e impressão. Investimos uma parte muito grande das nossas vidas nesse projeto.


Foto: Jose Villarrubia
Alan Moore e sua mulher, a desenhista Melinda Gebbie (Foto: Jose Villarrubia)
G1 – Até que você e Melinda acabaram se casando. Acha que, de certa forma, o teor altamente erotizado do trabalho acabou ajudando a relação de vocês?

Moore – Com certeza. O livro e o relacionamento foram muito bons um para o outro. Acho que não poderíamos ter tentado fazer esse livro se não tivéssemos uma relação. Não teríamos trabalhado por 16 anos se não tivéssemos essa ligação íntima muito, muito forte. Ao mesmo tempo, acredito que o livro ajudou a relação também. Lembro que, quando começamos a fazer essa obra de pornografia, era quase um pré-requisito que fôssemos completamente honestos um com o outro sobre todos os nossos pensamentos sexuais, em um nível muito íntimo. Sei que há muita gente que se envolve em longos relacionamentos sem que nunca o parceiro o conheça tão intimamente. Mas, para nós, esse foi o ponto em que o nosso relacionamento começou, o que eu vejo como uma grande vantagem. E também podíamos ver um resultado físico da nossa relação emergindo das páginas de “Lost girls” que começavam a surgir.

G1 – Vocês viviam em casas separadas?

Moore - Mantivemos casas separadas porque os dois temos uma quantidade enorme de livros. E também porque, quando se está imerso em um projeto, é útil ter espaços separados para trabalhar. Mas ainda mantínhamos contato. Melinda vinha duas ou três noites e ficávamos juntos. Quando acabamos “Lost girls” e finalmente encerrei meu contrato com a [editora de quadrinhos americana] Wildstorm, deixando aquelas pessoas para trás para sempre, eu me senti tão aliviado que decidi dizer adeus à indústria de quadrinhos mainstream e que era hora de uma mudança em nossas vidas. Então pedi Melinda em casamento. Ela se mudou no dia seguinte. E nos casamos alguns meses atrás.


Foto: Reprodução/Neilgaiman.com
Alan Moore e Melinda Gebbie vestidos para o casamento (Foto: Reprodução/Neilgaiman.com)
G1 – Com muita elegância, aliás. Vi as fotos de vocês no blog do Neil Gaiman.

Moore - Estávamos lindos, não? Tivemos um pessoal muito competente para confeccionar as roupas. Na nossa idade, se temos de casar, tem de ser com estilo.


G1 – Os trajes também foram inspirados na moda da época de “Lost girls”?

Moore - Sim, bastante. O modo como os decandentistas se vestiam era lindo. Havia algo tão corajoso e extravagante no período decadentista e no dandismo. Como nos anos 1960, quando o dandismo ganhou um toque psicodélico, mas era dandismo ainda assim. Trata-se de querer usar algo bonito, ainda que envolva tiração de sarro e desdém. Eu realmente gosto daquele estilo, que se estendia para o jeito de se vestir, de agir, de escrever e de desenhar. Eram completamente desembaraçados. Esse, sim, é um padrão para se viver.



G1 – Mudando de tema: diversos de seus quadrinhos foram adaptados para o cinema, incluindo “A Liga Extraordinária”, “Do inferno” e mais recentemente “V de vingança”. É sabido que não gosta de falar muito sobre isso, mas o que acha dos filmes?

Moore – Eu nunca sequer os vi. Não assisti a nenhuma das adaptações para o cinema e não tenho intenção de fazê-lo. Simplesmente quero distância de tudo isso, porque não foram adaptações fiéis ao meu trabalho, parecem não ter nada a ver com as intenções das minhas obras. E houve alguns incidentes desagradáveis com o filme “A Liga Extraordinária” que me fizeram pensar que a melhor atitude a tomar seria recusar todo o dinheiro, entregá-lo para o desenhista e remover meu nome do filme. E isso se tornou uma constante. Só deu errado com o filme de “V de vingança”, em que, depois de eu repassar meu dinheiro para o artista, a [editora de quadrinhos] DC e a Warner Bros. decidiram que iriam usar o meu nome no filme. Um de seus produtores ridículos, Joel Silver, anunciou uma mentira irritante de que eu estaria incrivelmente empolgado com o filme e que eu estava conversando com ele e com os irmãos Wachowski. Foi o início de uma briga de quase um ano, bastante chata, em que tentava explicar, para revista por revista, que eu nunca trabalharia com a Warner de novo. Depois, no final daquele ano, eles mandaram um pedaço de papel dizendo que iriam retirar o meu nome do filme. Espero que tenham aprendido a lição e que não façam a mesma coisa com o filme de “Watchmen”. Até onde sei, todo mundo na indústria de cinema mainstream americana não é confiavel, não conheço ninguém ali em que eu confiaria para nada. Eles são vingativos, e seus subalternos e empregados parecem estar tão comprometidos que não conseguem fazer nada sobre isso. Portanto não tenho a mínima idéia de como será “Watchmen”. Falei bastante com [o desenhista de “Watchmen”] Dave Gibbons, expliquei que se dessem a ele meu dinheiro e retirassem meu nome do filme, então, eu não daria um pio sobre a qualidade do filme - ou a falta dela. Mas, por outro lado, se fizerem a mesma coisa que fizeram com “V de vingança”, então exatamente a mesma coisa irá acontecer. Talvez pior.


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Cena do filme "V de vingança", adaptação de graphic novel de Alan Moore (Foto: Divulgação)
G1 – Você tem idéia do quanto de dinheiro já perdeu por dispensar o pagamento pelas adaptações?

Moore - Para o filme do “Constantine” foram US$ 70 mil, que dividi entre os artistas. No “V de vingança” sei que houve um pagamento inicial de US$ 7 mil, que mandei para [o desenhista da HQ] David Lloyd. Depois houve o pagamento final e nem perguntei quanto era. Só disse para mandar para David Lloyd. Então não faço idéia. Isso não importa. Para mim, é muito mais importante a integridade do meu trabalho. Não quero que as pessoas confundam essa bobagem de Hollywood com algo que escrevi. E, infelizmente, os filmes são uma forma de cultura tão proeminente que a maioria das pessoas não vai se importar em ler os livros. Vão ver a “Liga” e pensar que essa coisa idiota tem alguma ligação com o quadrinho em que aparentemente foi baseado. Não me faz parecer bem. Não existe quantia de dinheiro que me faça sentir melhor com isso. Espero que Hollywood tenha aprendido a lição e deixe meus filmes em paz.


G1 – O seu problema é com a adaptação da obra em si ou com Hollywood?

Moore - Com os dois. Não estou muito convencido de que adaptações funcionem de modo algum. Sei que há exceções a essa regra. Mas Hollywood e a cultura americana em geral me parecem criativamente falidos. Não me lembro da última vez em que Hollywood tenha tido idéias novas. Fazem adaptações de qualquer quadrinho por aí, de qualquer romance, de boas séries de TV dos anos 1960 e 1970, de programas terríveis da TV dos anos 1960 e 1970, de jogos de computador e até de brinquedos de parque de diversão, como em “Piratas do Caribe”. Eu adoraria ver criadores e escritores inteligentes em Hollywood, como era Billy Wilder, que sabia escrever coisas que servem particularmente ao cinema. Pega-se também muitos filmes de fora e os refazem como produtos certinhos para Tom Cruise. Todo mundo pode ler legendas. É uma tremenda perda de dinheiro, de talento e de tempo ficar constantemente canibalizando a sua velha cultura descartada e, pior, a de todo o resto do mundo. E as pessoas que eu conheci em Hollywood... simplesmente não gosto delas. Elas me pareceram enormemente desonestas, sem inteligência ou valores estéticos. Basicamente, não me importo com o que eles produzem. Se me deixarem em paz, eu nem vou precisar falar deles.


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Onde você vai com essa varinha, Potter?
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G1 – E sobre Harry Potter? Como mago, acredita que ele está representando bem a classe?

Moore - Tentei ler um dos livros de Harry Potter logo quando saiu e ainda não havia toda essa falação. Mas não fui muito longe. Depois, quando todo mundo já estava me dizendo que eu deveria ler, tentei de novo e não avancei. Não achei muito bem escrito. As pessoas me diziam, “mas é escrito para crianças, não para você”. Quando, na verdade, eu conheço literatura infantil, conheço e adoro livros para crianças bem escritos, como os livros de Mary Poppins, que não menosprezam seu público e trazem um senso real de magia. Então, não, não gosto dos livros de Harry Potter e, como alguém para quem a magia faz parte de sua vida diária, não acho que aqueles livros façam bem à magia. O que eles realmente fazem é reforçar a velha crença de que a magia só pode ser encontrada em livros tolos para crianças, que não tem realidade ou existência no mundo real nem uma aplicação prática para a vida humana de uma pessoa normal. Também acho um pouco lamentável que ela [a escritora de “Harry Potter”, J.K. Rowling] tenha ressuscitado a escola pública britânica em boa parte da narrativa. Tenho, sim, muito respeito por seu sucesso, por sua fantástica história de vida: mãe solteira, escreve um romance e de repente se torna uma milionária. Boa sorte para ela. Eu apenas gostaria que os livros fossem melhores. E que se fosse falar de um assunto que tocasse meu coração, como magia, que se esforçasse um pouco mais. E que não tivesse trazido de volta essa insituição utrapassada e politicamente dúbia que é a escola pública de elite. Então não posso dizer que sou um fã de Harry Potter.


G1 – E quanto ao escritor brasileiro e mundialmente reconhecido Paulo Coelho, o que pensa de seus livros?

Moore - Li alguns. Ele é interessante. Mas suas idéias de magia são diferentes das minhas. Lembro de dar uma entrevista a um brasileiro que disse que Paulo Coelho poderia transformar água em vinho e fazer chover com xamanismo. Não conheço tanto a obra de Paulo Coelho para saber do que o jornalista estava falando, mas sei que eu não consigo fazer nada disso. E não há muita vantagem em fazer chover na Inglaterra, temos chuva suficiente o ano todo. Também não preciso transformar água em vinho. Tem uma loja de bebidas aqui na esquina. Dá muito menos trabalho do que ter de transformar aqueles átomos de água em átomos de álcool (risos).


G1 - Você foi cotado para vir ao Brasil neste ano para a Festa Literária Internacional de Paraty. Por que não aceitou o convite?

Moore - Eu não saio nem de Northampton, exceto muito raramente. Nem tenho mais passaporte. E tenho tanto a fazer que, se viajar, vou acabar desejando estar em casa trabalhando. Só ouvi coisas boas sobre o Brasil, mas é que simplesmente eu não viajo. Sou feliz em Northampton. Eu faço a maioria das minhas viagens dentro da minha cabeça. Posso viajar com a minha imaginação para um lugar e escrever sobre ele com os detalhes e a intensidade que fará o leitor pensar que eu morei lá por anos. Isso aconteceu com os americanos em “Monstro do Pântano”. Antes [de Alan Moore assumir o roteiro da HQ], os autores americanos não tinham sequer estabelecido em que pântano ele estava. Eles não sabiam. Então eu perguntei. Alguns pensavam que era nos Everglades da Flórida, outros na Louisiana, que foi eventualmente onde colocamos ele. Eu li muitas coisas sobre a Louisiana, me imaginei lá e, então, escrevi sobre. E muita gente achava que eu tinha vivido lá. Como escritor, posso provavelmente experimentar o local em que essas pessoas vivem mais do que elas próprias. Para a maioria de nós, o lugar em que vivemos é desinteressante, familiar, morto. Conhecemos muito pouco da história da cidade em que vivemos, não ligamos. É só quando vem alguém de fora e olha para aquele lugar como algo novo, estranho e fascinante que o traz de volta à vida.


G1 – Você certamente conhece um bocado sobre Northampton. Escreveu um livro inteiro só sobre ela, não?

Moore - Sim, tenho uma paixão incrível por Northampton. Escrevi “Voz do fogo”, que era ambientando inteiro em Northampton ao longo de 6 mil anos de sua história. São 300 páginas, mas achei que era um livro muito cosmopolita e abrangente. Então, no novo livro que estou escrevendo, decidi focar em apenas alguns quarteirões de Northampton. “Jerusalém” fala do 1,5 Km2 em que eu cresci. Deverá ter algo como 1.500 páginas. E, provavelmente, o próximo vai ter 8 mil páginas e será só sobre a minha sala de estar (risos). Por um lado, é uma cidade fascinante, a quantidade de história e de eventos estranhos que aconteceram aqui são impressionantes.Mas não estou dizendo que esse lugar é mais importante ou mais extraordinário do que onde qualquer outra pessoa vive. É só o lugar onde eu vivo. E o que estou fazendo por Northampton, que aparentemente é só uma cidade cinzenta e sem graça, é usar minha escrita para transformá-la na cidade de maravilhas que existe dentro da minha cabeça. Acho que muitos artistas se beneficiariam se dessem uma olhada fresca sobre a cidade em que vivem. Faça observações poéticas, tente sentir que é um local maravilhoso. Suspeito que se sentimos que o lugar que estamos vivendo é uma droga, eventualmente chegaremos a conclusão que nós somos uma droga. Por outro lado, se você pensar que o lugar que vive é um templo celestial cheio de seres maravilhosos, nós mesmos nos sentiremos assim.


Foto: Reprodução/Gutemberg.org
Afresco de Ernest Normand mostra o Rei João Sem Terra assinando a Carta Magna (Foto: Reprodução/Gutemberg.org)
G1 – E quais são os lugares que você circula em Northampton e que fazem parte desse 1,5 Km2 que estará em “Jerusalém”?

Moore – Socialmente, eu apenas ando pela cidade. Em “Jerusalém”, os lugares incluem o Castelo de Northampton, que virou uma estação de trem, mas foi o local onde viveu o Rei João, citado em Shakespeare. Foi o castelo onde Rei João se viu cercado pelos barões rebelados de Northampton e forçado a assinar a Magna Carta, primeiro documento pelos direitos humanos. Foi do mesmo castelo que saíram as Cruzadas, primeiro contato do mundo ocidental com o islã. Foi também onde um grande número de santos, incluindo São Tomás de Aquino, foram condenados. Foi a área onde Oliver Cromwell ficou antes da batalha que levou à Guerra Civil inglesa e à captura e posterior decaptação de Charles I. Charles II demoliu o castelo durante a Reforma. Há outro local, na esquina do lugar onde estou falando, em que Charles Chaplin fez suas primeiras performances quando tinha sete anos de idade. Um pouco mais abaixo, fica o lugar em que um monge do século VIII ou IX foi instruído por um anjo a colocar uma cruz. Sim, Northampton é o centro da Terra. E não sou eu quem está dizendo isso, é Deus quem diz também. A quantidade de história nessa área é praticamente inacreditável. As principais guerras travadas na Grã Bretanha, Guerra Civil, Guerra das Rosas, todas acabaram tendo suas batalhas finais por aqui. E ninguém ouviu falar desse lugar. Com tantos eventos históricos famosos, é obscuro.

G1 – Talvez seja mais conhecido como o lugar onde vive Alan Moore.

Moore - Sim, provavelmente. Me envergonho em dizer, mas considerando que o meu trabalho, no momento, parece popular. Espero que falando de Northampton eu consiga restaurar um pouco de sua glória antiga no mundo. É como uma capital alternativa da Inglaterra. Muitos dos reis e rainhas viveram aqui. Temos famílias aristocráticas, com ligações com a realeza. Em um mundo paralelo, Northampton é a capital de uma Inglaterra muito mais generosa e gentil. Na minha imaginação.