sábado, 10 de maio de 2014

sábado, 3 de maio de 2014

Quiprocó


Ela lançou-lhe, do outro lado da sala, um sorriso esplêndido, daqueles que sorriem boca e olhos, fazendo com que a expectativa acendesse dentro dele. Encaminhou-se, então, até ele e, se colocando as suas costas, começou uma massagem deliciosa nos ombros; ele sentiu um arrepio gostoso na espinha e um suave relaxamento:
— Como vão os estudos, querido? Muita tensão?
— Bastante, faltam só dois dias para o concurso.
— Mas eu vou te oferecer uma coisa que vai te aliviar...
Ele pensou se a levaria até sua casa ou, quem sabe, no matinho da biologia. Mas, antes que ele se decidisse, ela já estava na sua frente, ajoelhada e apoiando os ombros sobre as suas coxas. O meio de suas calças se avolumou. Pensou em abrir o zíper, mas decidiu não se precipitar, relegando a ela a tarefa. Ela, no entanto, pegou em suas mãos, aproximou-as, e uniu quatro mãos em postura de oração:
— Aceita Deus em teu coração, meu irmão.

sábado, 5 de abril de 2014


Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto [em rede] é mais um meme.

terça-feira, 11 de março de 2014


    Relendo Édipo Rei, se enraízou mais fortemente em mim a percepção de que o homem deseja a todo custo afastar de si a dimensão trágica da existência - e olha que, no presente caso, estamos falando dos gregos, o que se poderia dizer dos nossos dias de otimismo pseudocientífico com suas autoajudas "quânticas"? -, qual seja, a de que somos impotentes, ao menos em situações-limites impostas pelo acaso, em relação ao nosso próprio destino e que nosso futuro é, consequentemente e em última análise, imprevisível. Por certo que ninguém desejaria ser Édipo, padecer de seus infortúnios, isso é natural; mas o nosso anseio de auto-realização, nossa busca pela "felicidade", vai bem mais além disso, não gostaríamos nem mesmo de conhecer Édipo, de ter diante dos olhos tal dor e aberração, de ser apresentado à realidade no que ela tem de mais terrível, de ser arrancado a força de nossa bolha ideal (morna como o útero materno) como bem atesta o Corifeu, logo após Édipo ter-se cegado: "Ah! Se eu jamais te houvesse conhecido, Édipo!". Em suma, queremos manter intacto não só o nosso corpo, nossa dignidade e nossa honra, queremos manter intacto também nossas ilusões e nossa ingenuidade, pois sabemos que tanto como as primeiras, as últimas também são condições para a tal "felicidade".


sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Da cooperação entre dois sentidos

  
  O sexto sentido, como queria o filme, pode não ver gente morta, mas poderia "ouvir", se o que estamos escutando é um Doors, um Raulzito ou qualquer outro que não esteja mais entre nós e se o nosso aparelho de som estiver suficientemente alto para afetar o vestibular, o sistema responsável pelo nosso senso de equilíbrio, gerando aquela sensação incrível de êxtase desequilibrado (hybris) e vertigem musical.
   Mas o que é interessante notar é como a cooperação entre o sentido da audição e o sentido do equilíbrio podem gerar uma nova experiência sensível (falta-nos um nome para tal experiência sensível, que eu apenas poeticamente e sinestesicamente chamei de "êxtase desequilibrado" e "vertigem musical") do mesmo modo como a cooperação entre o sentido do paladar e o sentido do olfato possibilitam a experiência do aroma.

 
Ela me perguntou: "Qual tu considera o teu maior defeito?"
Eu respondi: "Meu maior defeito é achar que meus defeitos não são defeitos, mas qualidades. Mas é graças a esse defeito que eu não escondo os meus defeitos, assumo-os todos; eu não quero ser perfeito. E assim ninguém me atinge apontando um defeito meu, eu já o assumi de antemão. Pois é, esse é meu defeito, acabei de tomá-lo como minha qualidade."
Já que eu era o assunto, e de acordo com minha egotrip, perguntei, então: "E você, qual tu acha o meu maior defeito?"
E ela respondeu: "Teu maior defeito são dois, mas se escrevem com as mesmas letras, apenas trocando a posição de duas..."
"Quais?"
"Tu é um baita de um ELITISTA, e um ETILISTA desgraçado!"

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

PRÍNCIPE ENCANTADO



Olha só, escuta aqui, Cinderela!
Não fica aí trancafiada no castelo só a espera
Que “a perfeição é inimiga da pressa”
O tempo passa e nem ao dragão apetece carne velha