terça-feira, 8 de junho de 2010

O novo Lucky Strike

    O novo Lucky Strike vem numa carteira preta. O preto é luxuoso e está na moda. Os antigos computadores beges nos aparecem agora como velharia. E sujos. Por falar em informática, o novo Lucky Strike tem como logomarca o botão de ligar. Trata-se de um cigarro tecnológico e interativo: é igual ao branco, mas se preferirmos basta quebrar a ampola que tem dentro do filtro para que se torne mentolado. Sentimo-nos, assim, mais livres; é como poder entrar no MSN com o status invisível. O mercado em prol do nosso gozo e bem-estar. Pego agora minha carteira de cigarros e a viro de lado: Um defunto com o peito escancarado e uma narina no pescoço salta-me aos olhos, louco para arrancar o sossego dos impressionáveis. Acima da fotografia, uma única palavra, “Morte”, traz consigo um lacônico mau-agouro. O preto luxuoso instantaneamente se converte em preto fúnebre, macabro. Por livres-associações, chegam-me a mente faixas anarquistas alertando para o mal da moda, do luxo, do capitalismo. Faixas anarquistas porque é o novo Lucky Strike, mas poderiam ser comunistas caso fosse um Marlboro: não faz nenhuma diferença. Nem o atraente designer nem o cadáver me comovem. Não compro a felicidade que uns querem me vender, assim como não me assusto com a morte da qual outros querem me salvar. Abro a carteira e tiro outro: no mais, é um bom cigarro.





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